Baseada na minha experiência clínica de 23 anos na odontopediatria, minha orientação em relação ao momento oportuno para a prevenção é durante a gravidez. Surge aí a primeira pergunta: “Meu bebê nem nasceu ainda, como seria essa prevenção?”. A Odontopediatria é uma aula expositiva aos pais, de 40 minutos, com o intuito de orientá-los tudo sobre a prevenção e os cuidados inicias. A filosofia desenvolvida é fugir ao máximo da cadeira, recorrendo à ela somente quando necessário, para alguns casos.
A segunda pergunta que vem a tona é: “E quando meu bebê já tem dentinhos, como se daria essa prevenção?”. O que deverá ser feito é a remoção do biofilme, pois já na anamnese é possível sabermos se vai ou não ter manchas brancas. É importante, no pré-natal odontológico, fazer o básico e deixar a mãe com sua saúde bucal perfeita.
Minha filosofia de pré-natal odontológico é: Ou você faz bem ou encaminha. Não é qualquer dentista que está preparado para esta missão. Todas as minhas orientações são baseadas em evidências científicas, não sou pesquisadora tampouco cientista, porém estou sempre atualizada a níveis de evidências e novas pesquisas, sempre. Tudo dentro de protocolos.
É importante compreender que o pré-natal não é o atendimento à gestante e sim orientações sobre elas e o neonato. Dentre essas orientações está o estímulo ao aleitamento materno, essencial e exclusivo até os 6 meses de vida. Quanto mais amamenta no peito menor a chance de hábitos deletéricos. E o que isso significa? Significa que, o fato de amamentar por mais tempo tem menores chances de desenvolver hábitos que prejudiquem a saúde bucal de seu bebê.
Existem pesquisas que afirmam que o risco de cárie a partir de um ano de amamentação de madrugada, por exemplo, aumenta em 30 vezes. Comer doces e não fazer a higiene bucal aumenta o índice de cárie, o problema são as “escapadinhas” nos doces e na escovação.
Uma outra questão bastante importante é sobre a chupeta, evitá-la faz parte, mas se usa é importante seguir a orientação do dentista, pois chupeta não se indica e sim, permite-se. Ninguém consegue provar porque uma ou outra chupeta é melhor, mas todas usadas de forma errada faz mal. Já o dedo é um problema e a mamadeira é bom evitar. Aos dois anos os pais devem estar de acordo e sabendo todas as orientações sobre a alimentação e hábitos de seu bebê.
Fazer a limpeza com gaze antes dos dentinhos nascerem é bom, mas cientificamente não é comprovado. Porém não custa criar um ambiente limpinho para os primeiros visitantes. Depois que os dentinhos nascerem é essencial a limpeza. Já o uso do flúor não é fundamental, mas evita, previne e ajuda o controle de doenças e o surgimento de cáries.
Entre 5 e 6 anos já devem estar falando bem, mas antes disso prestem muito a atenção com a mastigação e o aleitamento. Caso detectada alguma alteração com a fala e a mastigação é fundamental a avaliação de uma(o) fonoaudióloga(o), a indicação dessa(e) profissional é o primeiro passo a se dar nesses casos. Já a consultoria em aleitamento pode ajudar.
O pré-natal odontológico, funciona mesmo? E a resposta é: Depende de como o profissional aborda, e o quanto os pais estão envolvidos com a gestação. O que eu sugiro é fazer o pré-natal odontológico após a terceira semana de gestação, pelo fato dos pais estarem ansiosos com o sexo do bebê. O ideal mesmo é entre 30 e 40 semanas de gestação. O pré-natal público funciona bem, toda gestante terá sua caderneta de acompanhamento. É sempre bom pedir a indicação aos médicos pediatras/obstetras.
O Brasil é super avançado na odontopediatria e atuamos da seguinte forma:
Atuação com a gestante :
1 - Orientação
2 - Tratamento:
Sempre voltar para falar sobre o bebê. Se optar por não usar o flúor redobra-se o cuidado.
A eficiência do flúor é de mais de 1000 ppmf.
Sem beliscadas na sacarose não tem cárie. Com beliscadas a regra é flúor na pasta. A relação do corpo com a boca é tudo.
Um fator de risco que pode causar a infecção bucal é a pré-eclâmpsia. Os sintomas podem manifestar-se durante a gravidez, principalmente após a 20ª semana de gestação, no parto ou após o parto e incluem pressão alta, superior a 140 x 90 mmHg, presença de proteínas na urina e inchaço do corpo devido à retenção de líquidos. A infecção bucal é séria e está associada, também, ao parto pré-maturo.
A qualidade de vida é primordial durante a gestação e alimentar-se bem e com qualidade também é sinônimo de saúde bucal, portanto, qualquer infecção e doenças como a cárie devem ser tratadas.
Frisa-se a importância de documentar e assinar toda a atuação nos cuidados com a gestante, e normalmente não existe contra indicação na atuação. É preciso ter muita atenção com alguns cuidados como: aferir a pressão no inicio do atendimento, é muito importante! Não atender com pressão acima de 14.
Outro ponto bastante relevante é com relação a anestesia local. Alguns aspectos devem ser observados quando da utilização de anestésicos locais em gestantes, dentre eles a ausência ou presença de vasoconstritor (importantes componentes das soluções anestésicas). Quanto ao seu uso em gestantes saudáveis, quando os benefícios superarem os riscos, os mesmos devem ser utilizados.
A recomendação de solução anestésica local mais segura e, portanto, recomendada para o uso em gestantes, consiste na associação de 2% de lidocaína com epinefrina, respeitando-se o limite máximo de 2 tubetes anestésicos por sessão de atendimento, procedendo-se sempre a prévia espiração e a injeção lenta da solução. Em gestações problema é recomendado o uso de mepivacaína sem vasoconstrictor. É crucial que o dentista entre em contato com o médico da gestante e estar atento à dosagem do anestésico local e aos sinais e sintomas apresentados pela gestante durante a realização da anestesia.
Os medicamentos são sempre coadjuvantes. Em infecções como um abcesso (leve ou moderada), recomenda-se o uso de Amoxil (a tetraciclina não), ou clindamicina, se for alérgico a amoxilina. O uso de anti-inflamatórios não é bom e para criança também deve-se evitar. Recomenda-se o uso de paracetamol de 1 a 2 dias.
A clorexidina é indicado em procedimentos pré-clínicos, pré-cirúrgicos, diminuindo a incidência de alveolites, e no pós-cirúrgico, fazendo com que não haja proliferação de bactérias e por consequência não causando infecção e mantendo a ferida asséptica. O Periogard, um enxaguante a base de clorexidina não é contra indicado, podendo fazer o uso tranquilamente.
Bebê e a Consultoria de Aleitamento – O que a Mamãe precisa saber antes do seu Bebê nascer.
O profissional de odontopediatria, que é o capacitado em Odontologia Neonatal e Aleitamento Materno, apresenta conhecimento técnico de manejo clínico do aleitamento materno, como também de procedimentos odontológicos em gestantes e bebês. A cavidade bucal do recém-nascido possui características próprias que permitem a adequada realização das suas funções vitais. Se diagnosticada, ainda no nascimento, alterações bucais que possam dificultar ou impedir a realização dessas funções, o primeiro exame deve ser realizado, caso necessário, o tratamento deve ser iniciado. Um exemplo de alteração bucal em neonatos que requer tratamento específico é a língua presa, que poderá interferir negativamente na amamentação.
Dentro da Odontologia Neonatal trabalha-se muito sobre a questão do aleitamento materno. Nos seis primeiros meses o leite materno é um alimento completo do ponto de vista nutricional, e o momento do aleitamento é importante para o desenvolvimento cognitivo, emocional e motor do bebê. Para que a função de sucção ocorra de maneira natural, o recém-nascido deve apresentar coordenação dos reflexos orais, vedamento labial e adequada movimentação e protrusão da língua, para obtenção do leite.
A habilidade de distensão da língua é fundamental durante a extração do leite dos ductos mamilares, bem como os movimentos da mandíbula, o ritmo de sucção, as pausas alternadas e a coordenação entre movimentos de sucção, deglutição e respiração. Todos estes mecanismos são importantes para o sucesso da amamentação. A língua está completamente formada ao final do segundo mês de vida intrauterina e, durante o seu desenvolvimento, células do freio lingual sofrem apoptose e o freio se retrai para longe de seu ápice, formando uma prega fibromucosa, chamada frênulo. Pode haver, durante esta fase de morte celular programada, uma perturbação e a ocorrência de uma condição, que é conhecida como anquiloglossia.
A anquiloglossia é uma anomalia congênita, na qual o frênulo lingual é anormalmente curto e espesso (ou ainda delgado), podendo variar amplamente em espessura, elasticidade e local de fixação na língua e no assoalho da boca. Tais características podem restringir os movimentos da língua em diferentes graus. A anquiloglossia pode ser classificada em leve ou parcial, que é o tipo mais comum, e grave ou completa, condição rara, em que a língua está fundida com o assoalho da cavidade oral. Assim, nos casos graves, essa membrana interfere na livre movimentação da língua e a alteração no frênulo lingual implica consequências nas funções de sucção e fala.
Bom, são muitos os porquês de você iniciar a Odontologia do Neonato, acho que consegui expressar alguns. Tudo para que vocês, pais, tenham os melhores momentos e hábitos de higiene desde a gestação de seu bebê.